Zanin entra em cena e tira de Noronha investigação sobre venda de sentenças no Tocantins

Zanin entra em cena e tira de Noronha investigação sobre venda de sentenças no Tocantins

Ministro do STF assume caso que liga magistrados a esquemas de corrupção e vazamento de dados, em meio a diálogos comprometedores envolvendo figuras políticas e membros do Judiciário

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu assumir pessoalmente a condução de uma investigação explosiva sobre supostas vendas de sentenças no Tribunal de Justiça do Tocantins, tirando o caso das mãos do ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A apuração faz parte da Operação Maximus, deflagrada em agosto de 2024, mas que agora se entrelaça com outra investigação mais antiga, a Operação Maet, de 2010.

Zanin já lidera a Operação Sisamnes — nome que remete a um juiz corrupto da mitologia persa —, focada em desvios e vazamentos em tribunais estaduais, como os do Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Agora, com os autos da Maximus em mãos, ele também passará a investigar indícios de corrupção que teriam atingido até gabinetes de ministros do STJ.

A decisão de Zanin veio após a Polícia Federal recuperar conversas que sugerem que dados confidenciais da Maximus foram vazados. Esses diálogos mencionam de forma direta o ministro Noronha, apontando que ele teria antecipado detalhes sigilosos da operação ao prefeito de Palmas, José Eduardo de Siqueira Campos. Em uma das conversas, o prefeito revela ter sido alertado por Noronha sobre o afastamento de desembargadores, ainda na época da Maet, há cerca de 15 anos.

Os áudios captados são de junho de 2024, poucos meses antes da deflagração da Maximus. As conversas mostram um nível preocupante de proximidade entre agentes públicos, políticos e membros do Judiciário. O prefeito chega a listar nomes de juízes, advogados e até parentes que poderiam “dançar” com a operação.

Um dos interlocutores dessas conversas é o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, sobrinho do atual governador do Tocantins, Vanderlei Barbosa. Thiago está preso desde abril deste ano e é citado em várias partes dos áudios, que revelam bastidores delicados sobre a operação. Sua defesa entrou com um pedido de habeas corpus que, mais de dois meses depois, ainda aguarda julgamento.

A Operação Maet, por sua vez, também foi autorizada por Noronha em 2010 e levou à prisão de juízes acusados de participar de um esquema de venda de decisões e fraudes envolvendo precatórios no Tribunal de Justiça do Tocantins. As investigações apontaram na época que alguns magistrados recebiam contracheques acima de R$ 100 mil.

Agora, com as novas revelações, a teia de interesses políticos, jurídicos e pessoais se entrelaça novamente. Para os investigadores, os relatos feitos por Siqueira Campos sugerem que Noronha sabia com antecedência das ações da PF e teria avisado aliados estratégicos.

O STF ainda não se pronunciou oficialmente sobre a troca de relatoria, mas o gesto de Zanin sinaliza que o caso pode tomar um novo rumo — mais amplo e, possivelmente, mais incômodo para o alto escalão do Judiciário e da política local.

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