🌱 Rede em Ebulição: Marina Silva Leva Terceiro “Não” Seguido no Partido que Fundou

🌱 Rede em Ebulição: Marina Silva Leva Terceiro “Não” Seguido no Partido que Fundou

Heloísa Helena emplaca aliado e escanteia Marina mais uma vez. Com clima de racha e gritos de “Rede que eu quero não votou no Aécio”, legenda verde segue mais dividida que floresta desmatada.

Marina Silva, uma das maiores referências ambientais do país, parece viver um paradoxo político digno de tragédia ecológica: foi derrotada pela terceira vez seguida dentro da própria sigla, a Rede Sustentabilidade — aquela que ela mesma ajudou a plantar, regar e ver crescer. No congresso partidário realizado neste fim de semana em Brasília, sua chapa foi atropelada por uma avalanche de votos favoráveis ao grupo de Heloísa Helena, sua ex-aliada e atual rival declarada.

O novo rosto da legenda agora é Paulo Lamac, secretário da Prefeitura de Belo Horizonte e apadrinhado político de Heloísa. Ele venceu com 76% dos votos, enquanto o candidato apoiado por Marina, Giovanni Mockus, ficou com modestos 24%. Para quem fundou o partido e já foi candidata à Presidência, é uma queda e tanto — quase um deslizamento de reputação.

Lamac, todo diplomático, prometeu “trabalhar pela união”, como quem diz “vamos fingir que está tudo bem enquanto nos olhamos atravessado nos bastidores”. Ele garantiu que as disputas internas são “menores diante das bandeiras que defendemos”. Só esqueceu de combinar com o pessoal que passou os últimos meses em embates judiciais em pelo menos cinco estados, com direito a denúncias de filiações fantasmas e até convenções realizadas em corredores de hotel, como se o partido fosse um grupo escolar sem sala reservada.

Na Bahia, o caos chegou ao nível cênico: duas reuniões paralelas, um grupo tentando ocupar o espaço do outro e, de quebra, vaias à ministra — que nem presente estava. O roteiro parecia mais briga de condomínio do que congresso político.

As diferenças entre Marina e Heloísa são antigas. De um lado, Marina prega um ambientalismo moderado, tentando equilibrar natureza e mercado. Do outro, Heloísa quer o ecossocialismo na veia — e sem filtro. A discordância atinge também o Planalto: Marina hoje é ministra de Lula, enquanto Heloísa mantém seu ranço de longa data com o PT, desde que foi expulsa por votar contra a reforma da Previdência de 2003.

A chapa vitoriosa aproveitou a deixa para jogar na cara de Marina seu apoio a Aécio Neves em 2014, gritando: “A Rede que eu quero não votou no Aécio”. Já os marinistas tentaram equilibrar o jogo com outro grito de guerra: “Glauber Fica”, referindo-se ao deputado Glauber Braga, ameaçado de cassação e cuja suplente é… adivinha? Heloísa Helena.

No fim das contas, o congresso da Rede foi menos um encontro de afinidades e mais um retrato da fragmentação de um partido que nasceu com a promessa de fazer política de outro jeito — mas que, hoje, parece mais uma colcha de retalhos ideológicos em constante atrito.

E Marina? Bem, ela reagiu com a serenidade de quem já viu muita coisa na vida: “Se quiserem dizer que sou personalista, digam. Deus sabe que não sou.” Talvez Deus saiba. Mas a Rede, ao que tudo indica, já escolheu outro caminho.

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