
Advogado que defendia agressão contra mulheres é preso por espancar companheira
João Neto, influenciador com milhões de seguidores, disse em podcast que “há motivo” para agredir mulher — poucos dias depois, foi flagrado após deixar sua companheira ensanguentada em Maceió.
Dias antes de ser preso em flagrante por agredir sua companheira, o advogado baiano João Neto afirmou em um podcast que “existe motivo para um homem bater em uma mulher”. A declaração absurda, feita em 5 de abril, viralizou nas redes — e, menos de dez dias depois, ele próprio acabou preso por lesão corporal e suspeita de violência doméstica em Maceió. A Justiça já converteu a prisão para preventiva.
Durante a entrevista, João Neto não apenas tentou justificar a violência contra mulheres, como zombou do tema e ainda usou uma comparação com Jesus Cristo para se isentar de culpa.
“Homem só tem um motivo para bater na mulher: se ela lhe bater. Quem não quer apanhar, não bate. Se a mulher sabe que não aguenta com você, ela vai dar uma tapa na sua cara para quê? Se ela dá um tapa na sua cara, ela está querendo levar outro”, afirmou.
“Jesus levou um tapa e virou o outro lado. Eu não sou Jesus, não tenho essa capacidade. Se bater em mim, vai levar de volta”, disse ele, arrancando risos do apresentador.
João Neto tem 2 milhões de seguidores nas redes sociais e ficou conhecido por opinar sobre casos jurídicos e temas polêmicos, inclusive sobre a própria Lei Maria da Penha, que combate a violência doméstica. Em vez de defender a proteção das vítimas, o advogado escancarou um pensamento machista e violento, normalizando agressões.
A mesma violência que ele tentou justificar nas palavras, ele colocou em prática dias depois: uma câmera de segurança flagrou o momento em que sua companheira, de 25 anos, saía do apartamento com o rosto ensanguentado. A jovem confirmou que não foi a primeira vez que apanhou do advogado.
João Neto tem 47 anos, é natural da Bahia e mora atualmente em Maceió. Ele também se apresenta nas redes como ex-policial militar — mas, segundo a PM da Bahia, ele foi desligado do curso de formação há 15 anos e sequer chegou a atuar nas ruas.
Nas redes sociais, sua imagem era de um advogado carismático, que misturava humor com bordões como “no coco e no relógio”, e celebrava absolvições polêmicas de clientes. Em um vídeo, chegou a comemorar quando um cliente confessou um crime e, mesmo assim, conseguiu ser solto.
Depois da prisão, a Ordem dos Advogados do Brasil divulgou nota informando que João Neto está sendo investigado, mas que o processo tramita sob sigilo.
O caso gerou revolta entre internautas, que denunciaram não só o comportamento violento, mas também a forma como ele usava sua visibilidade para reforçar discursos perigosos. O episódio levanta mais uma vez o alerta sobre o uso da internet para propagar ideias machistas e o quanto isso pode ter consequências diretas e trágicas na vida de tantas mulheres.