Apagão de servidores ameaça travar obras e concessões no Brasil

Apagão de servidores ameaça travar obras e concessões no Brasil

Falta de pessoal escancara risco de colapso em projetos de portos, aeroportos, ferrovias e rodovias para 2025 e 2026

Se você acha que só seu computador trava, imagine um país inteiro na mesma situação. É isso que pode acontecer com dezenas de projetos de infraestrutura planejados para os próximos dois anos. O motivo? Falta de gente qualificada para fazer a máquina pública funcionar.

Órgãos do próprio governo federal, como o Ministério de Portos e Aeroportos e a Infra S.A. – estatal que toca quase tudo que envolve logística no Brasil – estão soando o alarme. Sem reforço nas equipes, há risco real de atrasos e até paralisações em obras e concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

Pessoas faltam, processos sobram

No Ministério dos Portos e Aeroportos, o cenário beira o absurdo. A coordenação que cuida de licitações, contratos e toda a burocracia tem só 17 pessoas tentando dar conta de 200 processos administrativos e 51 contratos ativos — tudo isso só nos primeiros quatro meses do ano. O coordenador, sozinho, administra 31 contratos ao mesmo tempo.

Em um documento enviado à cúpula do ministério, o recado foi direto: “Se não vier reforço, o risco de colapso é real.” O mínimo necessário, segundo o próprio ministério, seria triplicar a equipe atual para, pelo menos, 53 pessoas.

Infra S.A.: o cérebro sobrecarregado do transporte

Na Infra S.A., responsável pelos estudos e planejamentos de logística do país, a situação não é diferente. A empresa pediu para ampliar seu quadro de 872 para 1.166 funcionários, mas o pedido foi negado. A justificativa? Erros na previsão orçamentária e na análise técnica.

Só que o volume de trabalho não espera: estão nas mãos da Infra S.A. 11 projetos de rodovias, 13 de ferrovias, 4 de hidrovias, além de estudos para 22 arrendamentos portuários, 3 canais de acesso, 11 pontes internacionais e 20 aeroportos regionais. Ao todo, são 84 planos de negócios que correm risco de emperrar.

Pior: 32% dos funcionários nem trabalham fisicamente na empresa, muitos deles são remanescentes de estatais extintas, como a RFFSA e o Geipot.

Agenda de 2025 e 2026 já está comprometida

Os próximos anos prometem ser intensos no papel, mas incertos na prática. Só o Ministério dos Portos e Aeroportos tem previstos:

  • 38 concessões portuárias
  • 4 arrendamentos de canais
  • 42 leilões de portos
  • 66 obras em 55 aeroportos
  • 50 concessões de aeroportos regionais

Já a Infra S.A. carrega nas costas projetos estratégicos para estradas, ferrovias, hidrovias e aeroportos que são fundamentais para destravar o desenvolvimento do país.

E agora?

O Ministério de Portos e Aeroportos diz que, depois de 11 anos sem concurso, o governo tenta acelerar a contratação de novos servidores. Parte deles deve vir do Concurso Nacional Unificado, realizado em maio do ano passado.

A Infra S.A. informou que ainda possui cerca de 100 vagas autorizadas, mas não preenchidas, e que pode realizar concursos a qualquer momento — se tiver orçamento. Enquanto isso, a empresa busca “estratégias internas” para não deixar os projetos pararem.

O Ministério da Gestão afirma que os concursos estão sendo retomados para reforçar os quadros, mas sempre de olho no equilíbrio fiscal.

Resumo da ópera:

Sem gente, não há obra. E sem obra, não há desenvolvimento.

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