
Bolsonaro faz ‘convocação’ e transforma depoimento ao STF
Ex-presidente mobiliza apoiadores para assistir seu interrogatório por Moraes e diz que não irá “lacrar”, mas “cobrar” os ministros; estratégia é alinhada com advogados em São Paulo
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou seus apoiadores, nesta sexta-feira (6), a assistirem ao depoimento que ele prestará ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nos próximos dias. Em um evento do PL Mulher, liderado por Michelle Bolsonaro, ele afirmou que a audiência será “relevante” e prometeu que vai “cobrar” explicações dos ministros, embora tenha negado qualquer intenção de fazer espetáculo. “Não vou lá para lacrar, nem desafiar ninguém”, afirmou, durante discurso.
Logo após sua fala, Bolsonaro deixou o evento em Brasília e seguiu para São Paulo, onde se reuniria com seus advogados para alinhar a estratégia de defesa. “É hora da verdade. E ela vai aparecer, acredito, para o bem da nação”, declarou, referindo-se ao depoimento como um “chamamento imprevisto”.
O depoimento é parte de uma série de audiências marcadas por Moraes com os réus do chamado “núcleo principal” da suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O grupo inclui, além de Bolsonaro, nomes como os generais Braga Netto e Augusto Heleno, o deputado Alexandre Ramagem, e os ex-ministros Anderson Torres e Paulo Sérgio Nogueira. As oitivas estão previstas para começar na segunda-feira (10) e podem se estender até o dia 13, caso não haja tempo para ouvir todos no primeiro dia. Bolsonaro acredita que será interrogado na terça ou quarta-feira.
Durante sua participação no evento do PL Mulher, Bolsonaro também reiterou que a direita precisa conquistar ao menos metade das cadeiras no Congresso para garantir poder real de mudança no país. “Com 50% das cadeiras, mandaremos mais que o presidente da República”, disse ele, segurando um papel com a Oração do Paraquedista de um lado e, no verso, nomes de ministros do STF como André Mendonça, Barroso e Luiz Fux.
Zambelli ignorada no evento
O encontro ocorreu um dia após a deputada Carla Zambelli (PL-SP) ser incluída na lista vermelha da Interpol, a pedido da Justiça brasileira. Condenada pelo STF a dez anos de prisão por envolvimento em invasão de sistemas do CNJ, Zambelli anunciou que deixou o país e se estabeleceria na Europa. Apesar da gravidade da situação, seu nome não foi citado por nenhum dirigente ou participante do evento. No máximo, o perfil do PL Mulher publicou uma imagem com um pedido de orações, enquanto o partido em si optou pelo silêncio.