
Correndo Contra o Relógio
Haddad se reúne às pressas com líderes do governo para tentar saída após polêmica do IOF
Ministro busca alternativas para aliviar a pressão do Congresso e do mercado; decisão precisa sair antes da viagem de Lula à França
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve nesta segunda-feira (2) no Palácio do Planalto para uma reunião urgente com a cúpula política do governo. O motivo? Encontrar uma saída para o impasse criado após o recuo parcial do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que gerou forte reação no Congresso e no mercado.
Haddad participou do encontro semanal do núcleo político do governo Lula, no quarto andar do Planalto, acompanhado do secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. A conversa foi no gabinete da ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, e contou com os principais articuladores do governo: José Guimarães (líder na Câmara), Jaques Wagner (líder no Senado) e Randolfe Rodrigues (líder no Congresso). O ministro da Casa Civil, Rui Costa, não esteve presente, mas mandou um representante.
O clima é de urgência. O governo corre para evitar um desgaste ainda maior, tanto no Congresso quanto na opinião pública. A estratégia agora é costurar uma proposta que equilibre as contas, sem recorrer a aumentos impopulares como foi o caso do IOF.
Entre as ideias na mesa estão sugestões da Febraban, que propôs medidas para ampliar a arrecadação e reduzir despesas, além de alternativas sugeridas por deputados. Técnicos da Fazenda seguem em reuniões paralelas, tentando fechar as contas.
Antes desse encontro, Haddad já havia se reunido no Ministério da Fazenda com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Ele revelou que estão trabalhando em duas frentes: uma delas mira corrigir distorções em impostos do setor financeiro, o que pode abrir espaço para ajustes no decreto do IOF.
— “Se houver algum ajuste, será dentro desse pacote de correção de desequilíbrios no sistema financeiro, sem aumentar a carga como um todo”, explicou Haddad, sem entrar em detalhes.
O prazo é apertado. Com Lula embarcando para a França na noite de terça-feira (3), o governo precisa bater o martelo até lá. Na semana passada, Hugo Motta chegou a dar um ultimato: se não houver solução em até 10 dias, o Congresso pode derrubar o aumento do IOF. Haddad, pressionado, prometeu entregar uma proposta antes disso.
🚩 Entenda como começou a crise
Tudo começou no dia 22 de junho, quando o governo publicou um decreto que elevava o IOF sobre investimentos no exterior. A reação foi tão negativa que, poucas horas depois, o governo voltou atrás em dois pontos: manteve em zero a alíquota para fundos nacionais aplicados fora do país (que subiria para 3,5%) e reduziu a cobrança sobre investimentos diretos de brasileiros no exterior de 3,5% para 1,1%.
Esse recuo, porém, deixou um buraco de aproximadamente R$ 2 bilhões na arrecadação prevista, que era de R$ 20,5 bilhões com o pacote completo. Agora, Haddad corre contra o tempo para achar uma solução que feche essa conta — e, de quebra, acalme tanto o Congresso quanto o mercado.