
Cracolândias se Expandem na Periferia de São Paulo e Geram Preocupação
Moradores mudam rotinas devido ao aumento de dependentes químicos e violência
O aumento na presença de dependentes químicos em bairros da periferia de São Paulo tem gerado apreensão entre os moradores, que relatam mudanças em suas rotinas para evitar confrontos e situações de risco. O fenômeno, antes concentrado no centro da cidade, agora se espalha por diferentes regiões desde o final de 2024, levando as autoridades a tomarem medidas para investigar e conter a situação.
Dependentes Próximos a Terminais e Estações
Na zona leste da capital, é cada vez mais comum encontrar grupos de dependentes próximos a terminais de ônibus e estações de metrô e trem. No bairro Cidade Tiradentes, por exemplo, usuários consumiam crack no bosque Asa Branca nesta semana.
Uma diarista de 50 anos revelou que alterou sua rotina com medo de ataques. Ela deixou de caminhar até o ponto de ônibus, optando por ser buscada pelo filho ou usar carros de aplicativo para percorrer menos de um quilômetro. A diarista também relatou furtos em sua residência, que só cessaram após a instalação de câmeras de segurança.
Em Itaquera, na avenida José Pinheiro Borges, uma área descampada próxima ao metrô se tornou ponto de uso de drogas. No local, comerciantes e ambulantes relatam que usuários frequentemente pedem dinheiro e dormem sob as marquises, sendo possível observar até 40 dependentes químicos reunidos em certos momentos.
Violência e Reações em Outras Regiões
No Jardim Tremembé, zona norte, a situação ficou ainda mais grave quando imagens nas redes sociais mostraram homens em motos agredindo dependentes químicos. Após os incidentes, a prefeitura intensificou ações na região, incluindo abordagens sociais e investigações sobre o caso.
Moradores como Raul Mônico, dono de uma loja de doces, enfrentaram prejuízos causados por furtos. “Roubaram cabos e outros equipamentos da caixa de luz externa. Isso causou transtornos enormes. Fiquei sem luz e perdi produtos refrigerados”, relatou o empresário, que contabilizou R$ 10 mil em perdas.
Ação das Autoridades
A Prefeitura de São Paulo informou que realiza reuniões periódicas com diversas entidades para acompanhar o problema, oferecendo acolhimento a moradores de rua e encaminhamentos aos serviços de saúde. A gestão do prefeito Ricardo Nunes também destacou que, em 2024, foram realizadas cerca de 9.000 abordagens em bairros afetados, resultando em mais de 1.700 acolhimentos.
Na região central, a cracolândia permanece concentrada na rua dos Protestantes, onde ações integradas de saúde, assistência social e segurança pública buscam conter o fluxo.
Periferia da Grande São Paulo Também Enfrenta Desafios
O problema não se limita à capital. Em Diadema, no bairro Eldorado, moradores relatam aumento no número de dependentes químicos desde o período natalino. Segundo uma moradora, o grupo de cerca de 30 pessoas tem causado brigas e furtos no comércio local.
Com medo, a população mudou hábitos: celulares são deixados em casa, semáforos são evitados à noite, e idosos desistiram de atividades ao ar livre. A Prefeitura de Diadema informou ter criado um gabinete de crise para monitorar e intensificar as ações de segurança e assistência social no bairro.
O avanço das cracolândias para áreas periféricas reforça a necessidade de políticas públicas abrangentes, que combinem acolhimento social com estratégias de segurança, para proteger tanto os moradores quanto os próprios dependentes químicos.