Marina Silva Cerceada: Ministra Acumula Derrotas e Enfrenta Fogo Amigo Dentro do Próprio Governo

Marina Silva Cerceada: Ministra Acumula Derrotas e Enfrenta Fogo Amigo Dentro do Próprio Governo

Ambientalistas perdem força no Congresso; projetos que ameaçam a Amazônia e os povos indígenas avançam com apoio até de aliados do governo

A situação anda cada vez mais tensa para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Depois de um bate-boca acalorado no Senado, ela deixou claro que não enfrenta apenas a oposição, mas também setores do próprio governo que hoje trabalham contra suas principais bandeiras.

O episódio mais recente, durante uma audiência na Comissão de Infraestrutura, escancarou o quanto Marina está isolada. A votação de projetos que desmontam a legislação ambiental, como o que flexibiliza o licenciamento, segue a todo vapor no Congresso, atropelando não só os ambientalistas, mas também a própria ministra.

Aliados da área ambiental tentam, a duras penas, ganhar tempo e reverter parte dos retrocessos. Na terça-feira, Marina e parlamentares da esquerda se reuniram com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na esperança de adiar a votação do texto que afrouxa o licenciamento ambiental. Motta até sinalizou que não deve acelerar a pauta, mas não assumiu nenhum compromisso real — nem mesmo concordou em criar um grupo de trabalho para discutir mudanças no projeto, como pedem os deputados ligados à causa ambiental.

— Ele foi protocolar, disse que não tem pressa, mas não assumiu compromisso. Está mais para empurrar com a barriga — relatou Talíria Petrone (PSOL-RJ), líder do partido na Câmara.

E o problema não para por aí. Há um racha dentro do próprio governo. Um dos ministros, em tom de crítica, chegou a dizer que Marina trava obras importantes para o país. A avaliação é de que ela estaria sendo um entrave para projetos de infraestrutura e exploração econômica.

O projeto que está na mesa pode causar um impacto devastador: ambientalistas calculam que ele ameaça cerca de 18 milhões de hectares da Amazônia, o equivalente a 25 milhões de campos de futebol, caso seja aprovado como está.

A ofensiva contra o meio ambiente tem nome e sobrenome no Senado: Davi Alcolumbre (União-AP). Ele não só articulou a aprovação desse projeto no Senado, como também pressiona o Ibama a liberar estudos para exploração de petróleo na Foz do Amazonas — uma área sensível do litoral do Amapá.

E não para por aí: Alcolumbre também criou um grupo de trabalho para destravar um projeto que legaliza a mineração em terras indígenas. O time é quase todo formado por parlamentares ligados ao agronegócio, com a ex-ministra de Jair Bolsonaro, Tereza Cristina (PP-MS), no comando.

Até o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que já foi aliado de Marina, agora ensaia um meio-termo. Ele condenou os ataques pessoais contra ela, mas fez questão de defender as pautas que ameaçam o meio ambiente, como a pavimentação da BR-319 e a exploração na margem equatorial do Amapá. Segundo ele, são demandas legítimas que precisam ser debatidas — desde que sem machismo, frisou.

O desgaste de Marina vem se acumulando. Ela já saiu derrotada na liberação de agrotóxicos e no marco temporal das terras indígenas — este último, agora, sendo alvo de disputa no Supremo Tribunal Federal (STF), que tenta conduzir negociações para reduzir danos.

O auge do constrangimento veio na própria Comissão de Infraestrutura. Irritada com uma série de ofensas, Marina abandonou a sessão. O estopim foi quando o senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que “queria separar a mulher da ministra”, pois “a mulher merecia respeito, e a ministra, não”. Detalhe: é o mesmo parlamentar que, em março, declarou ter “vontade de enforcar” Marina.

Diante do absurdo, ela exigiu um pedido de desculpas para continuar na sessão. Plínio se recusou. A ministra então se levantou e foi embora, sob protestos de alguns poucos aliados que estavam no plenário, como a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Depois da repercussão negativa, Marina recebeu apoio público de figuras como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Mas, no jogo prático, os retrocessos continuam passando.

Entre poucas vitórias, ela conseguiu aprovar uma lei que regulamenta o manejo de fogo, trazendo regras para o controle de queimadas. Porém, até mesmo projetos enviados pelo próprio governo, como o que endurece penas para crimes ambientais, seguem travados na Câmara.

A realidade, nua e crua, é que Marina hoje luta praticamente sozinha — enfrentando não só o Congresso, mas também parte dos seus próprios colegas de governo.

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