
Medo em alta: maioria dos brasileiros sente que a violência só cresceu no último ano
Percepção de insegurança atinge todas as faixas etárias, classes sociais e preferências políticas — e o celular virou símbolo do medo moderno
A sensação de insegurança está rondando as ruas, praças e até os lares do país. Segundo uma nova pesquisa do Datafolha, 58% dos brasileiros acreditam que a criminalidade aumentou na cidade onde vivem nos últimos 12 meses. Não importa se é jovem ou idoso, rico ou pobre, petista ou bolsonarista — o sentimento é generalizado e atravessa fronteiras políticas e sociais.
O levantamento, feito entre os dias 1º e 3 de abril, ouviu mais de 3 mil pessoas em 172 municípios. E os números falam alto: apenas 15% disseram que a violência diminuiu. Um quarto da população acha que a situação ficou como estava, e 2% preferiram não opinar.
O medo pesa mais nas mulheres, nas periferias das grandes cidades e principalmente na região Sudeste. No interior, o temor também está presente — 51% relatam aumento da violência. Já nas capitais e regiões metropolitanas, esse número salta para 66%.
Quando o Datafolha foca nas diferenças de renda, o que se vê é um Brasil dividido, mas igualmente assustado. Entre os que ganham mais de dez salários mínimos, 64% acham que a violência cresceu. Já entre os mais pobres (até dois salários), esse índice é de 59%. Curiosamente, o grupo que vê a situação com menos pessimismo é o da faixa de renda intermediária, entre cinco e dez salários mínimos.
E o medo também está batendo à porta de casa. Quase metade (44%) diz que o crime aumentou no próprio bairro — ou seja, não é apenas uma sensação distante ou uma notícia de jornal.
A pesquisa ainda mostrou que 1 a cada 10 brasileiros teve o celular roubado no último ano. É um dado assustador, especialmente porque hoje o aparelho não é só um telefone — é banco, identidade, localização e memória. O prejuízo vai além do financeiro: envolve segurança, privacidade e até dignidade. Só no ano passado, o prejuízo estimado com roubos de celulares e golpes digitais chegou a R$ 71 bilhões.
Para Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o sentimento de insegurança tem razão de ser. “O impacto dos crimes patrimoniais na vida das pessoas aumentou muito, porque o celular hoje carrega toda a vida de alguém”, afirma.
Além disso, os estelionatos, os famosos golpes, explodiram: o número de casos aumentou 360% entre 2018 e 2023, chegando a quase 2 milhões de registros em um único ano.
A violência também entrou pelas telas. Mais da metade dos brasileiros diz assistir a vídeos de crimes violentos para se manter informado, mas 73% admitem que essas imagens aumentam o medo de serem as próximas vítimas.
O tema da segurança, antes relegado a segundo plano, agora voltou com força ao debate político. O governo Lula propôs mudanças como a ampliação do poder da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, além da unificação dos boletins de ocorrência. Já nas cidades, como em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes aposta em câmeras com reconhecimento facial — a chamada “Smart Sampa” — para flagrar foragidos e exibir resultados.
Mesmo com quedas nos homicídios em algumas estatísticas, o Brasil ainda convive com uma rotina de assaltos, golpes e um medo constante, que se espalha como fumaça: invisível, mas sufocante.