
PF indicia deputados por discursos na Câmara e gera polêmica no Congresso
Oposição e aliados criticam ação que aponta abuso de autoridade
A Polícia Federal (PF) indiciou nesta terça-feira (26/11) o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) por declarações feitas na tribuna da Câmara dos Deputados. O episódio ocorre um dia após o indiciamento de Marcel Van Hattem (Novo-RS), também opositor do governo, por discursos na mesma linha.
Cabo Gilberto Silva se manifestou publicamente, afirmando que sua conduta foi legítima e questionando o motivo do indiciamento. “Roubei? Matei? Trafiquei drogas? Pratiquei corrupção? Não! Apenas cumpri meu dever e denunciei condutas do delegado Fábio, que lidera inquéritos ilegais contra inocentes brasileiros”, declarou. Ele se referia ao delegado Fábio Alvarez Shor, figura central em investigações que envolvem Jair Bolsonaro, opositores e militantes.
Congresso dividido entre apoio e críticas
O indiciamento gerou forte reação entre os parlamentares. Colegas bolsonaristas de Silva protestaram em plenário, acusando a PF de abuso de autoridade. A deputada Bia Kicis (PL-DF) destacou: “Ao invés de apurar o abuso denunciado, a PF foi além e indiciou parlamentares pelas falas na tribuna. Isso é autoritarismo.”
A insatisfação não foi restrita à direita. Chico Alencar (PSOL-RJ), do campo progressista, também condenou a medida. “Indiciar alguém por manifestação verbal feita na tribuna é um abuso de poder. Não podemos aceitar esse precedente perigoso.”
Liberdade parlamentar em xeque
O caso reacende o debate sobre os limites da imunidade parlamentar e a atuação de órgãos investigativos. Para alguns, o indiciamento por discursos na tribuna ameaça a liberdade de expressão no Congresso, enquanto outros defendem que acusações feitas em espaço público devem ser acompanhadas de responsabilidade.
A questão, no entanto, expõe um clima de tensão crescente entre os poderes, agravado pela polarização política. A ação da PF é vista por críticos como um reflexo do endurecimento nas investigações de aliados do ex-presidente Bolsonaro, enquanto apoiadores do governo defendem que as declarações ultrapassaram os limites do aceitável.