
Eduardo Bolsonaro tenta blindar pai usando vídeo com Fux
Deputado compartilha montagem destacando questionamento do ministro do STF para sugerir que Bolsonaro não assinou a “minuta do golpe”, enquanto delator confirma plano para reverter eleição e aponta envolvimento direto do ex-presidente.
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) publicou em suas redes sociais um vídeo com elogios ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), destacando sua atuação no depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, delator do esquema golpista articulado após as eleições de 2022. A gravação foi feita no primeiro dia de audiências com os principais envolvidos na tentativa de golpe de Estado.
A publicação traz a legenda: “Urgente! Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas”. A cena exibida mostra Fux perguntando a Cid se Jair Bolsonaro chegou a assinar o polêmico documento — a chamada “minuta do golpe”. A resposta foi negativa: “Em nenhum momento foi assinado”. Cid acrescenta que essa era justamente a grande preocupação do então comandante do Exército, general Freire Gomes: que o ex-presidente pudesse assinar algo sem aviso prévio.
O vídeo, editado pelo deputado estadual Bruno Zambelli (PL-SP), irmão de Carla Zambelli, parlamentar também licenciada e condenada pelo STF a dez anos de prisão, foi claramente montado para reforçar a narrativa de que Bolsonaro teria se mantido à margem das ações golpistas. No trecho, o ministro Fux ainda questiona quem tinha contato com os acampamentos nas portas dos quartéis. Cid responde que o núcleo interno não mantinha relação com nenhuma liderança de fora.
Bruno Zambelli aparece no vídeo exaltando a atuação de Fux e classificando o depoimento de Cid como “esclarecedor”. Em seguida, afirma que nem Bolsonaro, nem os ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) assinaram a minuta.
No entanto, o mesmo depoimento de Mauro Cid traz revelações que contradizem o tom da postagem. Cid declarou que Bolsonaro pediu mudanças no texto da minuta golpista para que ela pudesse ser usada para reverter o resultado das eleições. Ele também afirmou que o general Braga Netto foi escalado como elo entre o governo e os articuladores do 8 de Janeiro, e que houve pressão para destituir Freire Gomes caso ele não aderisse ao plano.
A sessão no STF começou por volta das 14h de segunda-feira (9) e durou cerca de seis horas. Além de Cid, apenas o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) prestou depoimento nesse primeiro dia. Outros réus serão ouvidos ao longo da semana.
Enquanto aliados tentam manipular trechos isolados para isentar Bolsonaro, os depoimentos completos revelam que, embora ele não tenha assinado a minuta, esteve diretamente envolvido em sua formulação e nas pressões institucionais para viabilizar o golpe.