
Gleisi e a Globo: A Dança do Pragmatismo, Onde Só Ela Se Perde
Presidente do PT desafia a emissora, mas esquece que, no fim das contas, todos estão no mesmo jogo – com um pequeno “chilique” no meio do caminho.
Gleisi Hoffmann, sempre pronta para um novo confronto, voltou a atacar a Rede Globo, dessa vez após uma entrevista com Lula no Fantástico que reacendeu a velha e desgastada narrativa da Lava Jato. A presidente do PT não perdeu a chance de alfinetar a emissora, acusando-a de distorcer os fatos sobre a prisão do ex-presidente em 2018 e tentar manter vivas as versões já desmoralizadas pela própria Justiça.

Na entrevista, a repórter Sônia Bridi questionou Lula sobre sua prisão, perguntando se ele considerava que não teve direito à defesa. A resposta de Lula? “Eu fui preso primeiro, mas depois me defendi.” Mas, claro, a edição da Globo logo destacou o processo jurídico e silenciou as arbitrariedades já reconhecidas, como a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e a incompetência da 13ª Vara de Curitiba, que levaram à anulação do caso em 2021.
Gleisi, não surpresa, se manifestou com um tom firme, lembrando a Globo dos “fatos indeterminados” usados para condenar Lula. Para ela, o ex-presidente foi vítima de um juiz parcial e de um processo recheado de ilegalidades, como a condução coercitiva e a relação espúria entre Moro e a Lava Jato. Até aqui, nada de novo no front.
Mas, claro, o ex-juiz e agora senador Moro também não perdeu tempo em reforçar sua versão: “Lula foi preso após julgamento, teve amplo direito à defesa e foi beneficiado por reviravoltas políticas.” A ironia aqui é quase palpável, especialmente quando se lembra que Moro foi uma peça-chave no golpe de 2016, algo que ele convenientemente omite quando tenta se passar por “justo”.
E então vem o melhor da história: Gleisi, enquanto repõe os fatos sobre a Lava Jato e o papel de Moro, precisa encarar uma grande contradição. A Globo, aquela mesma emissora que fez coro com o golpe contra Lula, é hoje a maior beneficiária das verbas publicitárias do governo do PT. De janeiro a outubro de 2024, a emissora recebeu mais de R$ 87 milhões do governo Lula, um valor consideravelmente maior do que o registrado em 2022 e que representa mais da metade dos investimentos federais em TV.
A mudança de prioridades do governo em relação à Globo é clara, mas a postura pragmática de Gleisi e do PT traz à tona um debate desconfortável. A emissora que foi cúmplice na Lava Jato agora se encontra como a maior beneficiária das campanhas governamentais. Gleisi até fez seu papel ao rebater a Globo, mas sua revolta soa, no final das contas, como mais um chilique isolado – uma peça no grande jogo político onde todos têm algo a ganhar.